Stan Ray Tiner é editor do The Sun Herald, um jornal da cidade de Biloxi, no Mississippi desde 2000. Tiner começou sua carreira de jornalista como repórter de política num pequeno diário de Louisiana. No final da década de 80 chegou a se aventurar como candidato, mas foi derrotado. Em 2006, o The Sun Herald ganhou o Prêmio Pulitzer por serviços públicos pela cobertura dos estragos do Furacão Katrina e de suas consequências, juntamente com o The Times-Picayune, de New Orleans. Conversei com Tiner sobre a cobertura que levou o pequeno jornal a ganhar um dos principais prêmios do jornalismo mundial.

P: Assim como a população, os jornalistas do Sun Herald estavam passando pelos mesmos problemas. Como isso influenciou no modo como foi realizada a cobertura do Katrina?

Stan Tiner: Nossa cobertura fez nossos repórteres ficarem mais próximos não só entre si, mas em relação à comunidade. 70 dos nossos colegas foram desalojados pela tempestade e quase todos no jornal tiveram suas casas danificadas. Todos os problemas enfrentados pelos nossos leitores estavam sendo enfrentados por nós. A nossa profundidade de compreensão desses problemas criou uma empatia rara entre redação e leitores o que, eu acredito, tenha aparecido na nossa cobertura. Nós escrevemos sobre os problemas que estavam afetando todo mundo. Sobre umtempo difícil na vida de pessoas comuns que estavam sofrendo no dia-a-dia do mais extraordinário desastre da história do sul do Mississippi.

P: Com a região devastada pela tempestade e sem energia elétrica por algum tempo, como foi feito para imprimir e distribuir o jornal?

Stan Tiner: Nunca perdemos um único dia de publicação. Mandamos editores e designers para um jornal-irmão em Columbus, na Georgia, onde as edições foram impressas e transportadas por caminhões até Biloxi, todos os dias. Só voltamos a usar as nossas máquinas após uma semana. Publicamos 80 mil exemplares todos os dias e os distribuímos de graça para as pessoas ao longo da costa e nos abrigos. Assim como o nosso jornal impresso era a principal fonte de informação para os sobreviventes aqui, nosso site foi a principal fonte de informações para amigos e familiares que estavam ansiosos para saber o que estava acontecendo aqui no estado.

P: Durante os primeiros meses do pós-Katrina e durante o início do processo de reconstrução das cidades atingidas, principalmente New Orleans, o presidente George W. Bush foi duramente criticado pelo seu despreparo e omissão. Como você analisa a atuação do governo federal durante esse episódio?

Stan Tiner: A resposta do estado do Mississippi à tempestade foi pensada para ser bastante diferente do que foi visto em Louisiana [estado onde fica New Orleans]. Ocorreram alguns saques imediatamente após o furacão, mas a ordem foi reestabilizada logo. A ajuda do governo, por intermédio da FEMA, foi lenta, mas o auxílio de indivíduos, igrejas, grupos cívicos, fundações e outras instituições de caridade foi rápido e eficiente. Há um grande sentimento de frustração aqui, assim como em New Orleans, quando o assunto é a ajuda do governo. De algum modo o Katrina mostrou os limites do poder e da capacidade do governo federal de lidar com um desastre da escala e da amplitude de um furacão como esse – que foi um dos maiores desastres naturais da história dos Estados Unidos.

P: Como está sendo o processo de reconstrução no Golfo do Mississippi?

Stan Tiner: Dezenas de milhares de pessoas foram evacuadas porque suas casas foram destruídas, e para muitos deles não haverá possibilidade de reconstrução porque essas áreas não podem ser seguradas. Para aqueles que ficaram, os seguros se transformaram numa preocupação a mais na medida que os valores dispararam para várias vezes o custo anterior. Estamos oito anos após o Katrina e é possível ver vastas extensões de terra ao longo da avenida da praia, onde antes havia casas grandes e bonitas, sem nada. No lado positivo da recuperação estão os bilhões de dólares investidos nas cidades ao longo da costa do Golfo do Mississippi e o sentimento geral de orgulho pela reconstrução dos centros, parques e instalações das cidades, o que é algo impressionante.