Laura estava a ponto de desistir da fotografia, já era quase cinco da tarde e ainda faltava arrumar um de seus filhos para irem à missa. Mas seu marido já tinha chamado o fotógrafo e as crianças tinham roupas novas, além do sentimento de urgência que ela sentia fundo em seu coração desde que sentira o cheiro de crisântemos na manhã anterior.

Laura, decidida, agachou-se junto à filha mais nova e terminou de vestí-la com uma bronca quase súplica para que a menina não corresse e não sujasse, pelo amor de Deus, a roupa nova. Laura gritou pela filha mais velha e apressou o marido, que terminava de dar nós nas gravatas dos dois filhos homens, para a varanda da casa, onde o fotógrafo posicionava a câmera. A mulher apoiou sua cabeça no ombro do marido e o envolveu carinhosamente com o braço na altura da cintura. O homem retribuiu o abraço ao mesmo tempo em que ordenava para que as meninas parassem de zombar do irmão mais velho e seu cabelo brilhoso de cera dividido ao meio.

O fotógrafo deu sinal de que estava pronto. Laura ainda sentiu o coração apertar mais uma vez antes de acariciar levemente o ombro da filha mais velha e beijar o ombro do marido para então olhar para a câmera com um sorriso leve que falhava em esconder a angústia em seu peito. O marido estava sério, os meninos tentavam permanecer sérios e alinhados como ele e as meninas sorriam largamente em seus vestidos novos quando o flash disparou.

Semanas mais tarde, quando o fotógrafo voltou com o retrato revelado via-se na imagem as meninas alegres com seus vestidos, os meninos vestidos de hominhos, com ternos e cabelos encerados, e o patriarca sério entre seus cinco filhos. Ao lado do homem, porém, Laura aparecia como que desfocada, as mãos sumiam uma no terno do marido e outra nos cabelos da filha. O marido quis botar a culpa na pouca habilidade do fotógrafo, mas Laura o acalmou. Não havia importância, seu rosto era visível e via-se também o amor que havia naquela família sorridente, grande e de roupas novas para ir à igreja. O que deixava Laura satisfeita com o retrato era também o aperto em seu peito que enfim apaziguara. A foto estava feita, isso a tranquilizava pela primeira vez desde aquela manhã com cheiro de crisântemos semanas antes. Na segunda-feira em que a fotografia foi entregue, Laura demorou-se ao botar os filhos para dormir, um por um os cobriu e os beijou demoradamente na testa. Sorriso triste no rosto foi deitar-se incomodada. Aquela noite seria a última em que botaria seus filhos na cama. Deitara para nunca mais acordar.